Ataques de 8 de janeiro e o papel da inteligência institucional na gestão de crises no setor público

Lucas Pedrosa (*)

A invasão às sedes dos Três Poderes em Brasília nos ataques de 8 de janeiro é uma mancha que marca a história da democracia brasileira. Dentre as agressões que o ambiente institucional nacional sofreu desde a redemocratização, essa foi a mais visível e repulsiva.

Antes da culminação do fato, fontes jornalísticas já mapeavam que a invasão vinha sendo planejada desde 3 de janeiro, através do envio massivo de mensagens em grupos de WhatsApp e Telegram, em que se convocavam manifestantes para atos na capital federal.

Desta forma, resta um questionamento: haveria alguma forma de evitar a invasão ou atenuar seus efeitos? De quais informações tinham posse as autoridades públicas para que pudessem tomar ações precaucionais na iminência das manifestações?

Para compreender isso, precisamos antes definir o papel da inteligência institucional na gestão pública. A inteligência institucional é crucial na promoção da integração, alinhamento e estratégia de gestão dentro do setor público. Com as crescentes demandas e complexidades do cenário atual, o setor de inteligência institucional tem um papel fundamental na coleta, análise e disseminação de informações relevantes para a segurança e estabilidade das instituições e projetos governamentais. Ao fornecer informações atualizadas e precisas, os órgãos de inteligência podem ajudar as áreas do governo a trabalhar de forma mais coordenada e integrada, permitindo uma melhor tomada de decisões e ações mais efetivas.

Assim, inteligência institucional é uma peça chave no gerenciamento de crises no setor público – na prevenção e na atenuação dos seus efeitos. Com informações atualizadas e precisas, os líderes governamentais podem antecipar ameaças e tomar decisões estratégicas que minimizem os danos causados pela crise, sendo possível também uma recuperação mais rápida da situação. Setores de inteligência institucional efetivos carecem de quadro técnico capacitado para estimação de potenciais resultados de políticas públicas, análise de riscos, monitoramento e identificação de fragilidades, com conhecimento robusto e multifatorial em gestão pública, para que assim seja possível indicar medidas preventivas e corretivas de gestão de crises. Em resumo, a inteligência institucional, atuando de forma integrada com outras áreas do setor público, é uma ferramenta essencial no setor público para promover a integração, alinhamento e estratégia de gestão.

Os ataques de 8 de janeiro resultaram em problemas severos para o Brasil: além dos prejuízos à percepção da estabilidade democrática e do risco institucional, principalmente pela comunidade internacional e potenciais investidores, foram contabilizados cerca de R$ 21 milhões em danos ao patrimônio público.

Nota-se, entretanto, que os ataques de 8 de janeiro já mostravam suas primeiras impressões digitais pelo menos cinco dias antes. Desta forma, seria possível que uma atuação coordenada da inteligência institucional, verificando a possibilidade factível da ocorrência dos eventos, fosse suficiente para prevenir o ataque ou mesmo atenuar os seus efeitos, evitando a percepção interna e externa de fraca estabilidade democrática e institucional no Brasil, assim como de prejuízos de milhões de reais aos cofres públicos.

(*) Integrante da carreira de Gestão Governamental do Estado de Sergipe (EPPGG/SE)