Organizações Públicas orientadas por dados

Thiago Menezes Santana

*Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental
*Especialista em Gestão e Análise Estratégica de Dados

“Os dados são o novo petróleo”. Essa tem sido uma expressão utilizada de forma recorrente para indicar que, nessa nova era digital, os dados emergiram como um ativo de imenso valor para organizações em todo o mundo, públicas e privadas.

De acordo com a International Data Corporation (IDC), a soma de todos os dados criados, capturados ou replicados irá crescer de 33 para 175 zettabytes (ZB) de 2018 a 2025, graças à aceleração do processo de transformação digital pelo qual o mundo vem passando.

O fato é que as organizações passaram a compreender os dados como um recurso capaz de trazer grande vantagem competitiva. No caso do setor público, uma gestão estratégica de dados é capaz de fornecer respostas a problemas públicos complexos, de trazer maior responsividade para as demandas sociais e maior efetividade das ações governamentais.

Um exemplo internacional de sucesso é o caso da Austrália, cujo governo estabeleceu uma estratégia de governo digital orientada por dados (https://www.dataanddigital.gov.au/), promovendo ampla coleta, integração e análise de dados, para que a tomada de decisão seja baseada em evidências, avaliando continuamente se as políticas públicas estão alcançando seus objetivos e se estão sendo implementadas de forma adequada.

Olhando para o caso brasileiro, vê-se uma oportunidade imensa para que o setor público também aproveite as vantagens da gestão e da análise estratégica de dados. O Brasil é um vasto produtor de dados, resultado de sua população de mais de 210 milhões de habitantes e uma extensa atividade econômica e governamental. No entanto, apesar de possuir um volume colossal de dados, a utilização estratégica desses recursos para a formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas ainda é incipiente.

Ações isoladas de sucesso podem ser observadas. O Ministério da Saúde, por exemplo, desenvolveu a plataforma “OpenDataSUS”, que disponibiliza uma série de dados de saúde para consulta pública e para orientação de políticas públicas em saúde. Porém, essas iniciativas ainda são pontuais e não representam uma cultura de uso estratégico de dados em todo o governo brasileiro.

É aqui que entra o potencial do business analytics e da inteligência artificial (IA). São campos de conhecimento poderosos que podem permitir o processamento de grandes volumes de dados, identificar padrões e gerar insights valiosos. Esses insights podem auxiliar na tomada de decisão, melhorando a eficiência do governo e permitindo uma resposta mais ágil e adaptada às demandas da sociedade. A IA pode também ser usada para prever resultados de políticas públicas, permitindo ao Governo uma visão prévia do impacto de suas ações.

Em resumo, o futuro da gestão pública brasileira passa pela gestão estratégica de dados. Com o investimento certo em tecnologia e pessoal, o Brasil tem o potencial de transformar seus enormes volumes de dados em insights valiosos que podem melhorar a eficiência, a responsividade e a eficácia das ações governamentais em todos os níveis federativos.